Muito antes de pensar em ser jornalista, Ana Paula Padrão sonhava em dançar. Ela chegou a exercer a atividade profissionalmente até que o jornalismo entrou em sua vida e foi impossível evitá-lo.
Na carreira, foram anos dedicados à economia e mais de 15 como contratada da Rede Globo. Em 2005, resolveu pensar mais na família e largou o almejado cargo de apresentadora do "Jornal da Globo" para montar uma redação no SBT e colocar no ar o jornal "SBT Brasil". "Em três anos, aprendi o equivalente a uma década", revela.
Atualmente, ela comanda o semanal "SBT Realidade", que é feito pela sua própria produtora. "Além disso, hoje desenvolvo produtos para vários clientes do mercado. Passei de jornalista para jornalista-empresária, função na qual posso estudar, pesquisar e pensar novos conceitos e pôr em prática aquilo em que acredito", conta.
Confira a seguir uma entrevista exclusiva de Ana Paula Padrão ao Famosidades.
Antes de pensar em ser jornalista, você chegou a dançar profissionalmente. O que fez com que você largasse a dança para se dedicar ao jornalismo?
Ambição intelectual. Vida de atleta é vida de dedicação completa, sem tempo para viagens, livros, estudo. E essas eram coisas que eu desejava mais do que dançar.
Antes de ser âncora, você fez muitas reportagens, inclusive, foi correspondente internacional. Desta época o que você lembra de melhor e de pior de ficar longe do país?
O melhor de estar longe era o fato de ser uma anônima. Apesar de gostar muito do reconhecimento, sou um tanto tímida para lidar com a exposição pública. O pior era estar longe do doce de arroz da mamãe.
Um dos fatos mais marcantes da sua carreira foi a viagem que você fez ao Afeganistão. Como foi para uma jornalista brasileira estar no campo de guerra? Você iria novamente?
Tenho pensado muito no Afeganistão ultimamente. Fui três vezes ao país e adoraria voltar lá. Pela história, pelo que representa para mim e pelas belezas naturais. Mas, hoje até Kabul se transformou num lugar extremamente perigoso. Acho que, se não tiver uma história específica para cobrir, vou esperar as coisas ficarem mais calmas antes de voltar.
Nestes anos de carreira, cite alguns fatos que você cobriu e que ficarão sempre marcados na sua história.
O acidente nuclear de Tokaimura, no Japão. O inimigo invisível é assustador. A prisão de Augusto Pinochet, em Londres. A guerra de Kosovo, e os campos de refugiados na Macedônia. Algumas das imagens mais impressionantes que já captei. Os planos econômicos no Brasil. Pelo privilégio de acompanhar o amadurecimento da população.
Qual notícia você nunca gostaria de ter dado? E qual você gostaria de dar se pudesse?
Tive dores de cabeça terríveis e emagreci muito na cobertura de cada uma das CPI's. Destruir reputações, ainda que os personagens mereçam isso, é muito triste. Gostaria muito de contar histórias bonitas ligadas à saúde, como a imunização de todas as crianças contra doenças que ainda matam mais do que deveriam no mundo.
Você se lembra de algum mico que tenha pagado no ar?
Antes de fazer a cirurgia de correção de miopia eu usava óculos, para compensar meus três graus. Um dia, entrando ao vivo do Congresso Nacional, em Brasília, numa votação importante, eu tinha que ler o painel eletrônico com o resultado dos votos. Deixei meus óculos sobre a bancada da plenária, e eles acabaram caindo lá embaixo, na cabeça de algum deputado. Foi um vexame, pois na hora de ler os números no painel o cinegrafista teve que fazer uma manobra arriscada para sair do enquadramento em mim, que apertava os olhinhos para tentar ler o painel... Um horror... Depois disso decidi fazer a cirurgia e abandonar os óculos para sempre.
Em 2005, você deixou a Globo e foi para o SBT. Deste período na emissora de Silvio Santos, qual o balanço que você faz?
O balanço é excelente. Em três anos, aprendi o equivalente a uma década. Montei uma redação, contratei uma equipe de mais de cem pessoas, inventamos um jornal de uma redação que não existia. Foi maravilhoso responder à minha própria intuição na hora de estruturar um produto novo como o "SBT Brasil". Depois disso, montei de novo outra equipe para o "SBT Realidade", documentário semanal que produzimos e editamos da minha própria produtora, a Touareg Conteúdo. Além do "Realidade", hoje desenvolvo produtos para vários clientes do mercado. Passei de jornalista a jornalista-empresária, função na qual posso estudar, pesquisar e pensar novos conceitos e por em prática aquilo em que acredito. E foi o SBT que me deu essa chance. Estou feliz como nunca estive e vivendo meu melhor e mais criativo momento profissional. Se estivesse até hoje sob o guarda-chuva de uma mega empresa, numa função específica, não teria tido chance de ampliar meus horizontes. A transição do "SBT Brasil" para o "SBT Realidade" foi natural, de alguém que já sabia o que queria e apenas viabilizou essa transição.
Hoje sua relação com o SBT é de produtora e exibidora? Você está satisfeita, mesmo com algumas mudanças de horário?
No "SBT Realidade" tivemos uma única mudança em quase dois anos, que foi no dia de exibição, que passou da quarta-feira para a segunda-feira, mas o horário sempre foi o mesmo, 23h30. O produto é mais estável pois está adaptado ao perfil da grade e dos anunciantes. Minha relação com o SBT é de produtora terceirizada para a confecção de um produto específico e atuo como apresentadora deste produto.
Se a Globo tivesse lhe oferecido um programa em um outro horário, você teria permanecido na emissora?
Justiça seja feita, a Globo me apresentou sim outros horários possíveis de atuação. Eles apenas não se encaixavam ao que eu desejava naquela época e não mudavam minha relação com o produto pelo qual eu seria responsável. Além de não me darem o tempo que eu queria para mim e para minha casa e minha família.
Nos últimos tempos, surgiram boatos de que você estaria indo para a Record ou, até mesmo, negociando sua volta à Globo. Você tem planos de deixar o SBT?
Meu contrato com o SBT termina em maio de 2009, e estamos, portanto, bastante distantes de uma renegociação. Não negocio neste momento nem com o SBT nem com nenhuma outra emissora.
Você tem vontade de escrever algum livro contando suas experiências?
Tenho vontade de escrever e, na verdade, venho já batucando algumas linhas, não exatamente sobre experiências pontuais mas sobre pesquisas que venho acumulando nesses últimos dez anos e que influenciaram de alguma maneira as decisões pessoais e profissionais que tomei nesse período. Recebi várias propostas para lançar um livro sobre o que eu penso hoje, com base no que vivi, e tenho considerado densamente essas idéias.
Hoje, muitos jornalistas são mais personagens de notícias do que transmissores de fatos. Qual o limite para não virar somente uma celebridade?
O limite é aquele que guia sua vida. O limite é aquilo que você quer ser. Para ser uma celebridade, hoje, infelizmente, não é preciso ter produzido alguma coisa importante para a sociedade. Basta expor a intimidade publicamente e a fama vem. E também, infelizmente, muitos aspirantes ao jornalismo trocaram o ideal romântico e idealista da profissão pela sensação de que atuar na área pode promover alguém a celebridade instantânea. Eu preferi, claramente, atuar no terreno das idéias, discutir aquilo que é fundamental, e não manter a todo custo um posto de evidência que não traz nada além da exposição pública.
O que você espera da sua carreira nos próximos anos e também da profissão de jornalista, que tem passado por uma série de questionamentos nos últimos tempos?
Se há algo que me mobiliza, hoje, é pensar a profissão e no que ela pode contribuir para a circulação de idéias e conceitos importantes para a sociedade. Com a revolução pela qual passa a comunicação nos dias de hoje, há muitos modos de alavancar essa discussão. Estou, neste momento, organizando um encontro para inspirar as novas gerações e torná-las menos escravas da mídia e mais comprometidas com a essência. Um encontro que colabore para desglamurizar a carreira e para recuperar o valor do trabalho ético e produtivo.
fonte: site famosidade