Hebe Camargo, 80 anos e disposição de sobra

A televisão brasileira não conseguiu produzir um fenômeno como a apresentadora Oprah Winfrey, multimilionária, líder de audiência e tão influente a ponto de ser amiga da família Obama e contribuir para aumentar ou diminuir a venda de produtos por ela avaliados. Não é temerário, contudo, colocar a paulista de Taubaté Hebe Camargo, que neste domingo completa 80 anos, na mesma “calçada da fama” pela qual trilha a colega norte-americana.

A carreira de Hebe é indiscutivelmente a mais bem construída no hall dos artistas de TV do País. Ela comemora o aniversário feito criança, ao lado de amigos, na Disney. Ano passado, a festa coletiva foi em Porto, Portugal.

Tendo iniciado o estrelato no rádio e feito carreira também como cantora, Hebe Camargo direcionou todas as energias para o novo veículo de comunicação que estava a surgir. E que a coroou.

Para se ter uma dimensão do casamento perfeito entre a diva e a TV, Hebe estava na comitiva encabeçada pelo pioneiro Assis Chateaubriand que foi até o porto de Santos buscar os aparelhos da ainda desconhecida máquina de produzir sonhos. Em 18 de setembro de 1950, dia da inauguração da televisão no Brasil, contudo, Hebe não se fez presente.

Inicialmente, pode parecer um desleixo. Enquanto a PRF-3 TV Tupy-Difusora ia ao ar, Hebe, escalada para cantar o Hino da Televisão, estava acompanhando um namorado – Luís Ramos, dono da Folha de S. Paulo – conforme revelou em entrevista à revista IstoÉ em 1993. O que se vê hoje, 59 anos depois, é que aquela era a Hebe de verdade. Uma mulher que não deixava de viver a própria vida, mesmo com o risco de colocar tudo por água abaixo.

Reprovada no primeiro teste com o diretor Cassiano Gabus Mendes, ainda com o cabelo preto, natural, Hebe não desistiu. Persistiu e entrou no meio. Nos anos seguintes, passou por todas as grandes emissoras, com exceção da Globo. Atuou na TV Paulista, antecessora da Vênus Platinada, para onde foi levada, no meio da década de 50, pelo ator e produtor Walter Forster. Ali, esteve à frente de O Mundo é das Mulheres.

Na história pessoal, Hebe celebra os 80 anos com uma riqueza construída ao longo das mais de cinco décadas de carreira, carros importados na garagem e vida social intensa na noite paulistana. Casou-se duas vezes. Primeiro, com Décio Capuano, de cuja união nasceu Marcello, 44. E viveu uma história marcada pelo companheirismo e pelas tentativas de não se prender ao exclusivismo requerido pelo último amor, Lélio Ravagnani, falecido em 2000.

“Hebe tem lugar muito importante na TV brasileira. Ela mostra que alegria e personalidade forte dão bom resultado”, afirma Vida Alves, autora do livro TV Tupi – Uma Linda História de Amor e diretora da Associação Pró-TV, que também faz parte da história da telinha nacional e conheceu a família Camargo. “A raiz era muito boa”, elogia Vida.

Em celebração ao aniversário de Hebe, o Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, anunciou exposição comemorativa.

---